Pensamentos
Era uma vez…
Eu tô cansado da cidade, quero ir pro mato. Tem de tudo lá, porco galinha pato. Tem carroça, tem cachorro, tem carro de boi.
Era uma vez uma mesa. Em volta dela algumas pessoas sentadas. Em cima dela: café, bolos, pães e tortas. Embaixo, pernas cruzadas, relaxadas, ou agitadas. As pessoas conversavam, riam, se espantavam, duvidavam e se emocionavam.
Vocês (ei, vocês!) sabem por quê?
Porque entre goles de café e pedaços de comida, eles…
Era uma vez.
E tinha um homem que gostava de caçar. Ou fingia que gostava. Ou fingia que caçava.
E um dia, diz ele, o homem foi com o seu cachorro caçar um bicho (ou tirar leite da vaca – não me lembro bem -, eu digo e o homem diz e ele diz).
Estava escuro no meio da mata. E estava tudo quieto. Menos os bichos, os pequenos bichos, que na mata insistem em “barulhar”.
Ele estava lá, espingarda nas mãos e seu cachorro aos pés, olhando concentrado para todos os lados. Quando de repente…

Um bicho!
Uma vaca? Um leão? Um coelho? Não me lembro bem…
O homem, diz o homem, se aproximou cautelosamente, armou sua arma armada e quando ia atirar… O bicho (Uma vaca? Um leão? Um coelho?) olha para ele e pergunta:
– Você vai me matar?
O homem, apavorado com a fala do bicho, corre como um bicho na mira de um assassino.
Já distante da mata, olha para o seu cachorro e lhe diz:
– Credo! Eu nunca vi bicho que fala.
Ao que o cachorro responde:
– Credo! Eu também não.
Todos riem. Eu não falo. Só escuto. E penso. E admiro. E tomo mais um gole do café. E penso (mais um pouco) que a televisão desligada pode adormecer eternamente com suas histórias de caçador que mata de verdade na mentira do sangue de ketchup. E que eu prefiro a “ficção-verdade” do Valêncio Xavier. E que em determinados momentos das noites, a energia elétrica podia sempre acabar para que a gente acendesse as velas e nos sentássemos em volta da mesa com café, bolos, pães e tortas em cima dela. E embaixo, pernas cruzadas, relaxadas, ou agitadas. E as pessoas conversando, rindo, se espantando, duvidando e se emocionando. E por que…
Era uma vez.
